No decorrer da vida, lidamos com a transformação de características, habilidades e outros aspectos tão naturais ao ser humano. Talvez por esse motivo, uma das palavras que nos acompanham desde que nascemos até os últimos momentos de vida seja “desenvolvimento”.
Não importa se o assunto é carreira ou vida pessoal, todos estão sempre querendo melhorar ou aprender algo para evoluir de alguma forma. Nesse sentido, os testes de personalidade tornam-se opções cada vez mais procuradas tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.
Uma dessas ferramentas, bastante utilizada por coaches e profissionais que trabalham com o desenvolvimento de pessoas, é o eneagrama. Com origem incerta, o que se sabe é que foi introduzido no ocidente pelo filósofo George I. Gurdjieff e, desde então, tem os seus conceitos amplamente discutidos por diversos estudiosos.
O estudo do eneagrama consiste em analisar os tipos de personalidades que uma pessoa pode apresentar, já que funciona como um sistema dividido em nove padrões de personalidade, sentimento e ação definidos, mas diferentes entre si.
De acordo com a coach e especialista em desenvolvimento para executivos Suely Novoa, o sistema pode ser utilizado individualmente, focado precisamente na descoberta de perfis pessoais, ou então para empresas. “Existem autores na França que defendem que é possível, sim, encontrar o perfil de uma organização dentro do eneagrama, assim como existem casos em que os profissionais passam pelo processo, mas o mais comum é encontrar o tema atrelado aos indivíduos mesmo”, comenta.
Conforme dito, dentro do eneagrama é possível encontrar nove tipos de personalidade, que na literatura são descritos de formas diferentes mas apontam os mesmos traços. Seguindo como exemplo a tipologia Riso-Hudson, é possível encontrar os seguintes tipos:
1º O reformista
2º O ajudante
3º O realizador
4º O individualista
5º O investigador
6º O partidário
7º O entusiasta
8º O desafiador
9º O pacifista.
Suely explica que cada um dos padrões está baseado em uma tendência de percepção que a pessoa que faz o teste possa ter. Quando bem feito, é a partir daí que a pessoa começa a entender aspectos que afetam a vida pessoal e profissional.
Isso não significa, no entanto, que, ao descobrir a personalidade em que se encaixa, o trabalho está finalizado. Na verdade, encontrar um dos tipos de personalidade é apenas o primeiro passo para que um trabalho profundo de autoconhecimento comece. O modo de agir e pensar está diretamente relacionado aos tipos do eneagrama, e, por isso, na visão da coach, os resultados de um eneagrama bem feito podem levar à compreensão de quais motivações inconscientes determinam o desenvolvimento do indivíduo. “Com a descoberta do tipo eneagramático central, é possível que as pessoas façam mudanças consideráveis no modo de viver que interferem tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Quando compreendemos o modo como nos relacionamos com os outros e com nós mesmos, conseguimos encontrar caminhos de desenvolvimento humano muito mais palpáveis e facilitados”, conta a coach.
O eneagrama geralmente é desenvolvido por meio de uma série de questões que apontam o tipo de personalidade da pessoa. Essas questões geralmente ajudam na identificação de características individuais e de padrões de comportamento que interferem no autoconhecimento, autodomínio, liderança, obtenção de resultados, comunicação, planejamento estratégico, motivação e uma série de outros aspectos importantes para o nosso crescimento como seres humanos.
De acordo com a orientadora de processos pessoais e vocacionais Gabriela Ries, de forma geral, o eneagrama funciona como uma dança na qual todos os pontos se conversam e conectam. Assim, seria impossível afirmar que cada pessoa está inserida em apenas um tipo de personalidade definida pela ferramenta, já que ninguém tem apenas uma característica. “O eneagrama é movimentado, assim como a vida, portanto, o significado dele pode ser entendido de várias formas. A ferramenta é capaz de mostrar onde está a maior dificuldade e qual a maior facilidade de cada indivíduo: familiar, independência material, realização pessoal, destaque pessoal, traço principal, valores de vida, autoimagem, aptidão profissional e, ainda, seu caminho evolutivo”, conta Gabriela.
No entanto, isso não significa que o resultado de um eneagrama sozinho possa promover mudanças tão significativas, inclusive, porque, apesar de encontrarem um tipo de personalidade central, todas as pessoas transitam entre os tipos estabelecidos pela ferramenta. O momento de carreira, vida pessoal e até mesmo o humor podem influenciar diretamente na personalidade de cada pessoa.
Encontrar um profissional que trabalhe corretamente com o conceito do eneagrama, seja como ferramenta principal, seja como pano de fundo, é essencial para que o processo de autoconhecimento aconteça de verdade. “Não adianta apenas conhecer o perfil da pessoa; a análise deve ser muito mais profunda e centrada. Muitas vezes, o peso do rótulo de ser de determinado perfil pode ser muito mais negativo do que prestativo para o desenvolvimento do ser humano, por isso, é preciso tomar muito cuidado com a forma como se trabalha com os resultados. Todo mundo pode ter aspectos positivos e negativos de cada perfil, então o coach tem a responsabilidade de ajudar o indivíduo a se enxergar como ser humano”, destaca Gabriela.
Cada profissional que trabalha com o eneagrama pode utilizá-lo de uma forma diferente. Assim como alguns estudiosos acreditam que o eneagrama pode ser feito dentro de organizações, outros creem que a ferramenta serve apenas para o indivíduo em âmbito pessoal e que as organizações precisam de outros tipos de estudos que aceitem o conceito como base.
De acordo com Sofia Mountian, fundadora do Instituto de Evolução Individual Solaris, o eneagrama é apenas um pano de fundo para um estudo de potencialidades de cada pessoa. Sofia desenvolveu o conceito de Teoria da Abrangência, que considera a realidade multidimensional, ou seja, compreende como o indivíduo se insere no mundo, ao mesmo tempo em que mostra como o mundo acolhe o indivíduo.
Nos trabalho realizado por Sofia, as empresas não utilizam em momento algum o eneagrama, pois organizações não consideram características pessoais. No âmbito individual, a ferramenta possibilita o começo do estudo de potencialidades, que identifica como nos comportamos em três processos da vida: como agimos, como nos motivamos e como nos comunicamos, sozinho, em público ou em um grupo de trabalho, por exemplo. “Um eneagrama só funciona quando você descobre os seus tipos e potencialidades de verdade. Nós trabalhamos com competência energética e o que você consegue oferecer ao mundo”, comenta Sofia.
A coach Suely ainda complementa explicando que é por isso que o eneagrama precisa ser trabalhado com outros instrumentos, para realmente mudar o que é negativo e aproveitar o que há de melhor em cada perfil.
“Acho que o principal benefício da ferramenta está relacionado ao fato de que as pessoas passam realmente a se conhecer. Em todos os processos de que já participei, individuais ou profissionais, percebo que as pessoas não sabem nada de si mesmas. Muitas vezes faço perguntas simples sobre o que elas gostam de fazer ou almejam e elas ficam sem resposta nenhuma, porque não conseguem se entender. Ferramentas do tipo ajudam bastante a fazer com que os profissionais entendam que a motivação é intrínseca de cada um, está dentro de nós. Mas destaco que não adianta nada apenas sabermos em que tipo do eneagrama estamos; isso não muda nada, a pessoa precisa ser determinada para se conhecer, porque é um processo longo e demorado”, finaliza Suely.