Era uma vez um Unicórnio Azul. Ele tinha grandes olhos azuis e uma longa cauda azul e um fino chifre azul. O Unicórnio Azul estava vivo há muito tempo quanto ele podia se lembrar, e tanto quanto lembrava ele nunca tinha visto alguém igual a ele.
O Unicórnio Azul vivia na terra que ficou conhecida como Terra dos Campos Brilhantes, onde ele se empinava sobre a relva, saltava sobre as flores e brincava com todas as criaturas do campo. Felizes eram os dias do Unicórnio Azul na terra feliz, e seguras eram as suas noites.
Mas havia um algo que faltava entre o Unicórnio Azul e a Terra dos Campos Brilhantes onde ele vivia; algo que a terra tinha e que o Unicórnio Azul não tinha. Uma canção no ar da Terra dos Campos Brilhantes, que o Unicórnio Azul apenas entreouvia, sentia, mas nunca podia compreender: um som verde e sussurrante, como o som de uma semente abrindo suavemente seu caminho de inverno a verão.
“O que é aquele som?”, perguntou o Unicórnio Azul?
“É o som da nossa música”, respondeu a Terra dos Campos Brilhantes.
“Sobre o que vocês cantam?”, perguntou o Unicórnio Azul.
“Vivemos e crescemos rumo ao sol,
Dormir é fácil, acordar é bom,
A vida é boa e a vida é longa
Porque cantamos nossa canção”.
Cantamos a Canção da Vida, disse a Terra dos Campos Brilhantes. O Unicórnio ouviu mais uma vez e então tentou cantar a Canção da Vida. Mas o único som que ele podia fazer era o de um estalido parecido com papel – como o som de uma casca seca sendo arrancada de um bulbo. E a Terra dos Campos Brilhantes murmurou de pena e espanto.
“Ensine-me a cantar”, disse o Unicórnio Azul.
“Nossa canção é nossa, você deve encontrar a sua própria canção”, replicou, replicou a Terra dos Campos Brilhantes. “Nós somos nós e você está sozinho”.
“Em algum lugar deve existir outra criatura como você que possa ensinar-me a cantar”, disse o Unicórnio Azul.
O Unicórnio Azul deixou a Terra dos Campos Brilhantes e veio para a Terra da Floresta Profunda, onde as criaturas da floresta se aninhavam em tocas e altas árvores se esticavam acima do escuro. O Unicórnio Azul vagou no musgo úmido e mergulhou no coração da Terra da Floresta Profunda, e, ao fazer isso, ouviu novamente o som que ele agora sabia chamar “canção”: um som marrom e aveludado como o som de uma raiz procurando por água.
“Sobre o que vocês cantam?”, perguntou o Unicórnio Azul.
“Rumo ao sol vivemos e crescemos.
Conhecemos segredos de seiva e semente,
Não podemos dividir o que não sabemos,
O saber obtido é o saber que se aprende”.
Cantamos a Canção da Sabedoria”, replicou a Terra da Floresta Profunda. O Unicórnio Azul ouviu e tentou cantar a Canção da Sabedoria. Mas o único som que ele podia fazer era o de um suspiro – como o som que uma folha faz quando cai desde o outono até o inverno. E a Terra da Floresta Profunda suspirou compadecida e preocupada.
“Ensine-me a cantar”, disse o Unicórnio Azul.
“Nossa canção é nossa, você precisa encontrar a sua”, disse a Terra da Floresta Profunda. ”Nós somos nós e você está sozinho”.
“Em algum lugar deve existir outra criatura como você que possa ensinar-me a cantar”, disse o Unicórnio Azul.
E o Unicórnio Azul deixou a Terra da Floresta Profunda e foi para a Terra das Montanhas Desertas, onde abismos vastos e antigos dividiam cada alta fileira, onde nenhuma árvore crescia, nenhum pássaro voava e nenhuma sombra protegia da tempestade ou da noite. O Unicórnio Azul subiu mais e mais alto, lutando para alcançar os picos mais altos, e, ao fazer isso, ouviu novamente o som que ele agora sabia chamar “canção”: um zumbido triunfante – como o som de um cume quando corta o céu imenso.
“Sobre o que vocês cantam?”, perguntou o Unicórnio Azul.
“Vivemos e crescemos rumo ao sol,
Sozinhos e orgulhosos, iluminamos o fraco
Sem temer nada, nossos corações abraçam
A mágoa do tempo e a alegria do espaço”.
Nós cantamos a Canção da Liberdade. O Unicórnio Azul escutou mais uma vez e, então, tentou cantar a Canção da Liberdade. Mas o único som que ele podia fazer era um gemido dolorido – como o som que o vento faz ao procurar penhascos desolados para descansar. E a Terra das Montanhas Desertas ecoou com preocupação e pena.
“Ensine-me a cantar”, disse o Unicórnio Azul.
“Nossa canção é nossa, você deve encontrar a sua própria canção”, replicou a Terra das Montanhas Desertas. “Nós somos nós e você está sozinho”.
Em algum lugar, deve existir outra criatura como você que possa ensinar-me a cantar”, disse o Unicórnio Azul.
E o Unicórnio Azul deixou a Terra das Montanhas Desertas e veio para a Terra das Areias Brancas, onde nem chuva, nem vento, nem nuvens despenteavam o ar brilhante. E o Unicórnio Azul entrou no som que ele agora conhecia como “canção”: um som tão cheio e rico quanto à batida do coração azul do Unicórnio Azul – o som do silêncio.
“Sobre o que vocês cantam?”, perguntou o Unicórnio Azul.
E a Terra das Areias Brancas replicou:
“Sob o sol descansamos e sabemos
Tudo o mais cresce, enquanto quietas estamos
O silêncio mora atrás de cada som.
Nisto confiamos e achamos nossa canção”.
Nós cantamos a Canção da Paz. O Unicórnio Azul ouviu mais uma vez e, então, tentou cantar a Canção da Paz, mas a Terra das Areias Brancas estremeceu solidária e preocupada ao escutar não um canto, mas o som profundo e horrível do desespero.
“Ensine-me a cantar”, disse o Unicórnio Azul.
“Nossa canção é nossa, você deve encontrar a sua própria canção”, disse a Terra das Areias Brancas. “Nós somos nós e você está sozinho”.
O Unicórnio Azul manchou a areia branca com lágrimas azuis e disse:
Em algum lugar, deve existir outra criatura como você que me ensinará a cantar”.
E o Unicórnio Azul deixou a Terra das Areias Brancas e veio para a Terra das Águas Claras, que, cintilantes, alcançavam a margem do mundo. O Unicórnio Azul estava cansado, um cansaço tão profundo que até seus ossos doíam. E o Unicórnio Azul descansou um pouco na Terra das Águas Claras, ouvindo um som calmo e envolvente que ele agora sabia chamar ”canção”.
O Unicórnio Azul abaixou sua cabeça para beber, mas, ao fazer isso, tremeu de deslumbramento e de alegria ao ver na água uma outra criatura – exatamente igual a ele mesmo!
“Oh!, ensine-me a cantar”!, gritou o Unicórnio Azul. Então, seu coração parou ao ouvir que a criatura tinha gritado também. E o grito foi seguido de silêncio.
Então a Terra delicadamente cantou:
“O azul do céu é igual ao azul das nossas águas
Você vê a você mesmo, para si mesmo você chora
E o que você aprenderia você sempre soube
Porque você é nós e nós somos você
Somos as Águas do Amor
Convidamos você a nos beber
Convidamos você a beber conosco”.
E a canção do Unicórnio era exatamente a mesma e totalmente diferente de qualquer canção que já houvesse sido cantada.
Conto de Carol Mason traduzido por Ane Araujo
Extraído do livro Radical Honesty, de Brad Blanton, Dell Trade Paperback, 1996.
Qual é a sua canção?
É a da Vida ? A Vida é boa e a vida é longa.
É a da Sabedoria? O saber obtido é o saber que se aprende.
É a da Liberdade? A mágoa do tempo e a alegria do espaço.
É a da Paz? O silêncio mora atrás de cada som.
Ou é esta?
“O azul do céu é igual ao azul das nossas águas
Você vê a você mesmo, para si mesmo você chora
E o que você aprenderia você sempre soube
Porque você é nós e nós somos você
Somos as Águas do Amor
Convidamos você a nos beber
Convidamos você a beber conosco”.
O conto Unicórnio Azul nos mostra que temos diferentes caminhos para chegarmos ao autoconhecimento. Anseios, Crenças,Valores, Hábitos, Dons, Talentos nos fazem únicos dentro da mesma essência.
Qual é a sua canção? Ouça-a
Desejo muitas felicidades para você!
Abraços e até a próxima!